Entre 2007 e 2008, atuei na Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom), da Prefeitura de Manaus, como gerente do portal da cidade na internet. As obras de restauro do Mercado Adolpho Lisboa, no centro, já estavam em curso, e eu, ajudando e sendo ajudado pela jornalista Cimone Barros, produzi uma página específica para as imagens e textos referentes à obra. Fiz um trabalho parecido sobre a construção do viaduto Miguel Arraes, àquela época também uma obra que afetava a vida da zona Centro-sul de Manaus.
Quis o destino que as obras do mercado fossem embargadas, já não lembro direito por quê. Era algo sobre umas pedras seculares que os operários tinham tirado do lugar, e o imbróglio acabou paralisando tudo. O que houve depois, não sei. Quanto ao viaduto, o que me sobrou, pessoalmente, foi um vídeo amador que fiz, com as fotos que fiz, de algumas fases daquela obra. Amador, misturei Guilherme Arantes, Caetano Veloso e muito concreto e ferro. “Amanhã”, naqueles dias, era o que mais se aproximava de como eu, pessoalmente, me sentia. Mais do que trabalho, era um assunto pessoal. Eu me envolvi, por alguns dias, com o Mercadão e com o viaduto.
Encontrar ex-colegas no Adolpho Lisboa, ontem, já teria sido muito bom. O fotógrafo Marinho Ramos, que aparece em fotos minhas no vídeo do viaduto (coloquei o vídeo no fim deste post), me viu. Não sei se lembra daqueles trabalhos de seis anos atrás. Eu lembro, e um pedaço disso ontem virou passado. O Adolpho Lisboa vai ser entregue aos seu dono, o povo de Manaus, daqui a alguns dias.
O mercado está lindo. Ou voltou a ser lindo. Pude vê-lo ontem, no fim da tarde, a convite da Semcom, e de quebra ainda falei com o prefeito Arthur Neto. A Hellen fez algumas fotos do momento em que eu só dizia “parabéns, prefeito, o senhor conseguiu”. O senhor ao meu lado, permissionário do local, agradecia ao prefeito por lembrar dele. “Estou feliz que o senhor lembrou de mim, depois de 50 anos!”, o vi dizendo. Arthur falava que cresceu ali, nas imediações da Escadaria dos Remédios.
Era uma dívida histórica de Manaus com sua própria vergonha. Pérola da arquitetura Belle Époque, o mercado estava, havia anos, manchando a cidade como seu cartão de visitas. Se é em sua orla e em seu mercado municipal que reside a personalidade de uma cidade, Manaus está mais bonita. Novamente dá para ver, do mercado de peixe, o Rio Negro. O calçamento, a escada em caracol, as pedras antigas e a fachada reapareceram, e para os menos íntimos do lugar, o Mercado Adolpho Lisboa ressurge maior, mais diverso, mais organizado. Praças de alimentação, restaurantes, o galpão dos hortifrutis, os quiosques e balcões, está tudo lá, no lugar. Reluzindo em aço inox, em azulejos brancos e na luminosidade que vem de fora.
Quero torcer para que a cidade cuide bem de seu mercado municipal. Que mais pais e mães ensinem suas crianças o cheiro do peixe e do coentro frescos ali. Que as pimentas e a farinha, que o artesanato e as cambadas de jaraqui brilhem debaixo do metal e do vidro dessa beleza de prédio, para que Manaus retome de volta para si um dos seus mais bonitos retratos de infância.
É bom saber que Manaus terá de volta, depois de tantos anos, fins de tarde e manhãs de domingo mais felizes com o mercado. É importante que a cidade tenha tudo isto de volta. Mas volto a mim e ao meu passado próprio: a visita de ontem fechou uma janela da qual participei anos atrás, como aquela do viaduto.
Ver o Mercado Adolpho Lisboa novo em folha, em 2013, foi um fim de tarde muito feliz de 2008 para mim.
Meu vídeo:
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