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Dossiê pra quê?!

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Yoaní Sanchez e Salim Lamrani. Entrevista assassina.

Ou você é conservador de direita, ou revolucionário de esquerda. Quando digo que nunca votei no PT, no PCB ou no PCdoB (minto: votei no Roberto Freire em 1989), viro um tucaninho – os pefelistas do DEM parecem extintos. Não me lembro de ter me sentido comunista em 89 com aquele voto no Freire. Admirava suas posições (confesso que quase votei no Afif!), embora fique frequentemente constrangido com seus bate-bocas na internet.

Hoje, vejo que o Roberto Freire é oposição ao governo – portanto, um socialista do mal, um traidor da causa. Acabo de ler a entrevista que a blogueira Yoaní Sanchez, que está no Brasil para sei lá o quê, concedeu ao jornalista Salim Lamrani e que foi publicada em 15 de abril de 2010 no site Rebelión. Salim é francês, professor na Sorbonne (vixe! Vixe!) e especialista nas relações Estados Unidos – Cuba. Escreve para o The Huffington Post. Eu nunca li sequer um post de Yoaní Sanchez. E francamente nunca senti vontade. Na verdade, porque Cuba nunca me interessou além de por causa de Compay Segundo e Ibrahim Ferrer . Depois, porque todo ativista (seja ele pró ou contra a revolução, qualquer revolução) é, antes de tudo, um chato – à exceção da chilena Camila Vallejo, que é a coisa mais linda.

O problema é que Lamrani destroçou a cubana, acusada por 10 entre 10 guevaristas de ser financiada pelo governo americano para criticar o governo cubano. Quando a pauta é a guerra de informação entre a grande mídia ocidental e os veículos de guerrilha cibernética vermelha, é melhor se distanciar e dar de ombros a ambos os lados. Nestes casos, a luta é ingrata porque de um lado está o profissionalismo com que a mídia tradicional enxerta sua agenda comercial no que deveria ser apenas notícia. Do outro lado fica meia dúzia de seguradores de faixas, gritando slogans amarelados diante do coreto da praça. Não é o caso aqui. E pouco importa que fique claro, da metade para o fim, que a entrevista de Lamrani tinha a clara missão de fazer o que fez: destruir o mito da blogueira perseguida.

Quando admito ler a maior parte do que os Reinaldos escrevem, é porque identifico nos textos algo mais do que a defesa lobotomizada de uma ideia. Não basta que se escolha o lado correto, é preciso defendê-lo, de preferência com argumentos. E me desculpem os odiadores, o Reinaldo é bom, muito bom nisso. Por isso concordo com tudo o que ele diz? Não. Sou tucano, alckimista, reacionário? Duvido. Um exemplo: o Azevedo está bufando porque soube que o PT vai comemorar seus 10 anos de poder com uma campanha de comparação entre os indicadores sociais de FHC e Lula. Para o Reinaldo, a comparação é injusta porque FHC governou num cenário ‘inóspito’, atravessou crises mundiais e mimimi e mumumu. Bobagem pura do Reinaldo. Os indicadores oficiais atestam os avanços, a queda do desemprego, o aumento da renda etc. e o PT está liberadíssimo para fazer sua campanha política. Afinal, isto é política.

Minha querida Ana Paula Freire Artaxo, sob cuja indicação eu fui atrás da entrevista de Yoaní, costuma criticar os que se dizem neutros na esfera política. Quando falamos de partidos, tudo certo. Quando falamos de pessoas, a coisa complica. Porque esse é o ponto fraco e chato do debate político nacional. Marina Silva, coitada, nem decidiu ainda o que deseja na política, e já é criticada por não se assumir nem tucana nem petista. Nem conservadora nem revolucionária. Nem fantoche do capital estrangeiro nem ativista ambiental sem eira nem beira. Essa divisão, amigos direitistas e esquerdistas (falo retoricamente, só tenho amigos esquerdistas), é chata demais. Não porque seja pouco importante, é porque realmente há gente que quer sair dessa roda, mesmo que ainda não tenha decidido para onde vai.

Tanto é saudável imaginar um mundo desses que, diante de uma entrevista dessas, não sou forçado em nada para que diga que o mito anti-Cuba, para mim, morreu. Repito, sem qualquer ferimento ou tristeza – céticos têm essa vantagem, sofrem muito pouco com as safadezas de seus ídolos. Repito, mesmo que a linha do Rebelión seja assumidamente de esquerda. Não importa! Se de um lado os Reinaldos não têm pudor em se assumir conservadores, os Lamranis não precisam esconder seu socialismo. Este não é o ponto da discussão. O ponto da discussão é o argumento. E uma partida de futebol não é decidida pelas camisas de lado a lado. É decidida na bola. Yoaní levou meia hora de boladas na cara em março de 2010.

O PT, por quem nunca tive simpatia ideológica, tem todo o meu apoio para esfregar na cara dos adversários as suas conquistas em uma década de poder. Assim como a blogueira cubana Yoaní Sanchez tem todo o direito de fazer como o Reinaldo, lambendo suas feridas em público, choramingando ou babando de raiva. Reinaldo preferiu dizer que FHC sofreu mais, Yoaní preferiu dizer que suas palavras foram deturpadas por Lamrani.

Foi o primeiro post que li de seu blog, e nem foi o trecho “Recordo suas perguntas estereotipadas e, as vezes desinformadas, sobre nossa realidade que parecem muito pouco com estas – tão documentadas – que ele voltou a redigir para parecer um especialista” o que me chamou mais a atenção.

O trecho que me chamou mesmo a atenção foi o rodapé do blog, que dizia “Comentarios cerrados” (“Comentários fechados”).

Camila Vallejo, a prova de que uma imagem comunista pode soar muito melhor do que gritos num megafone.
Camila Vallejo, a prova de que uma imagem comunista pode soar muito melhor do que gritos num megafone.


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